Banda que tocava em boate em Santa Maria teve um integrante morto

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Baterista tentou ajudar sanfoneiro a escapar, mas músico acabou morrendo.
Grupo se apresentava pelo menos uma vez por mês na boate Kiss.
A banda Gurizada Fandangueira, que tocava na boate Kiss em Santa Maria (RS) na hora do incêndio onde pelo menos 232 pessoas morreram e outras 131 se feriram na madrugada deste domingo (27), teve um de seus seis integrantes mortos: o sanfoneiro (gaiteiro) Danilo Jaques, o mais jovem do grupo.
O baterista Eliel de Lima, de 31 anos, contou ao G1 que, antes de deixar o local, desatou a sanfona das costas do amigo. Eliel diz que foi o último músico a deixar o palco. Nessa hora, Danilo estava parado ao lado da porta do banheiro, ainda preso à sanfona. Foi quando o baterista ajudou o colega a se livrar do instrumento.
Na imagem abaixo, postada no Facebook da banda, de acordo com Eliel aparecem (da esquerda para a direita) ele, o sanfoneiro Danilo, o percussionista Márcio André Santos, o baixista Giovani Kegler (mais ao fundo), o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o ex-integrante Will Machado – todos na faixa dos 30 anos. O atual guitarrista, Rodrigo Martins, não aparece na foto porque entrou depois. Também faz parte do grupo Venancio Anschau, responsável por controlar a mesa de som.
anda Gurizada Fandangueira, que tocava na hora do incêndio em Santa Maria, teve um integrante entre os mortos: o sanfoneiro Danilo Jaques, que aparece acima de camisa azul e blazer preto (Foto: Arquivo pessoal)
"Àquela altura, o pessoal já estava correndo, a fumaça levantando, aí não o vi mais, estava tudo escuro, era uma fumaceira", lembra.
Depois disso, Eliel saiu correndo em direção à saída e ficou esperando em um estacionamento em frente pelos outros cinco companheiros da banda. Aos poucos, os músicos se encontraram, mas Danilo não voltou.
A gente saiu mal, no meio da fumaça, tive dor no peito. Fiquei aguardando para podermos nos achar, para ver quem tinha saído. Fomos nos encontrando aos poucos e ficamos na expectativa de achar o Danilo, mas ele não apareceu", relata.
Eliel só ficou sabendo da morte do amigo no início da tarde deste domingo, pois mora na cidade de Rosário e foi para casa depois do acidente.
Segundo o baterista, Danilo "era uma pessoa maravilhosa, parceira, com um jeito alegre e divertido". Ele conta que tentou ligar para a família da vítima, mas não conseguiu contato e decidiu não insistir para não atrapalhar os parentes nessa hora difícil.
Início do incêndio
Eliel lembra que a banda estava tocando há cerca de meia hora, depois das 3h da manhã, quando o fogo começou – as faíscas do show pirotécnico que o grupo usava atingiram a espuma do isolamento acústico no teto do estabelecimento e as chamas se espalharam.
Os integrantes da banda foram as primeiras pessoas a perceber o incidente, por isso conseguiram escapar rápido, "superapertados". Para chegar até a saída, tiveram que atravessar toda a boate Kiss, pois o palco ficava no lado oposto ao da porta externa.
"Um segurança chegou com um extintor de incêndio, tentou apagar o fogo, mas o extintor não funcionou", revela o baterista.
O músico diz que não se machucou, apenas se esfolou. Ele conta que ficou em frente à boate por cerca de uma hora, até os bombeiros isolarem a área para pôr os corpos das vítimas na rua. Eliel deixou o local por volta das 4h da manhã.
Show pirotécnico
A banda Gurizada Fandangueira tocava na boate Kiss pelo menos uma vez por mês, de acordo com o baterista. Nas apresentações, o grupo costumava usar efeitos de pirotecnia, que duravam apenas alguns segundos, segundo Eliel.
"Nunca deu problema, e não são os músicos que controlam isso, mas um rapaz da equipe técnica. A gente usava aqueles negócios no chão, que levantam e se apagam sozinhos. Acho que aciona por controle remoto", diz.
Segundo o baterista, os companheiros ainda não conversaram sobre o acidente nem sobre o futuro da banda. Eliel toca na na Gurizada Fandangueira há apenas nove meses, mas o grupo existe há quase dez anos e fazia show do CD "O som que o povo gosta".
Em um dos perfis da banda no Facebook, há um texto de apresentação que diz: "Com a grande experiência comprovada em bailes e shows, demonstra além de todo seu talento, muita inovação em estrutura, efeitos visuais e pirotécnicos, os quais fazem toda a diferença na identidade exclusiva da banda".
Integrantes de outra banda desaparecidos
Valderson Wottrich, líder da banda Pimenta e seus Comparsas, que tocava na boate Kiss antes do incêndio, disse que dois dos quatro membros do grupo ainda estão desaparecidos.
A banda se apresentou entre 1h e 2h10, antes da entrada do grupo Gurizada Fandangueira, que usou efeitos pirotécnicos durante o show. O vocalista conta que foi difícil enxergar quando abriu a porta para sair do camarim. Ele e o outro integrante conseguiram sair a tempo, logo no início do incêndio, mas os outros dois integrantes estão desaparecidos.
"Conseguimos sair logo no início pela porta que tinha um metro e meio de largura. Só conseguíamos enxergar 5 centímetros à frente por causa da fumaça preta", relata.



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